jeudi, février 14, 2013

a partida


dois corpos deitados na cama
são corpos, meros corpos, matéria prima
imersos em bacia de tempo fugidio
carne fértil e infértil
de sangue, lágrimas, músculos, rugas
dois corpos que se
estendem, desentendem
distendem, entendem
o corpo masculino vive o jogador de futebol
a glória pátria aguerrida, solfejada em gritos e vibrações
que abafam sua derrota extracampo, aquela palpável
sem apitos e gritos pelo seu nome
a vida seca, dura, onde o pé no chão alcança o frio mármore, apenas
ou naquele filme
onde nunca o galante mocinho perde seu chapéu
e tem a coragem como seu mais precioso bem em invólucro
em seu peito palpitante
e sempre prestes a agarrar a mocinha mais bonita
frágil e indefesa, como deve ser
não há barrigas salientes nem calvície precoce nem frieira no pé
muito menos chulé
ouro não falta, tudo é possível no jardim do outro
e na tela que não esta cá
o bom homem estica-se na poltrona e regozija-se
o corpo feminino nada disso entende, prefere observar
as plantas, a joaninha de óculos e perneta, oscilando pra cá e pra lá
no jardim japonês da casa
sonha com dias melhores, com amores proibidos
e com uma certa história de dois amantes embriagados de veneno
olha para o horizonte pela janela e busca uma visão
mais tenra, menos acinzentada
menos correntes mais asas
e os dois corpos vão
meio sem saber o porquê nem como nem onde nem quando
é gol, o chapéu se manteve intacto, a joaninha quase foi devorada por um percevejo faminto,
mas ela escapou
coitada coitado
a cortina se mexeu
(brisa brisa, que brios novos te trazem?)
o retrato das bodas pregado na parede também. o retrato balançou.
enquanto isso um ponto preto qualquer corta a parede branca descascada da casa como quem nada quer e daí?
e realmente, talvez ele nada queira
ao mesmo tempo que abre uma cerveja
o homem assiste tevê
enquanto ela faz a mala.