lundi, janvier 21, 2013

ao redor dessa esfera


ao redor dessa esfera
todos são culpados
culpados pelo carinho
pelo maltrato
pelo gozo
pelo soluço
pela leve pena que cai no chão do Japão
e que talvez consiga brutalmente mover
um duro coração aqui.

ao redor dessa esfera
todos são culpados
inequivocamente
pelo levar de mãos dadas
pelo rompimento de laços
que molha rostos, blusas
e entope narizes
milhões deles
a cada milisegundo nessa bola tonta e torta.


ao redor dessa esfera
todos são culpados
todos mentem, desdizem, maldizem, bendizem
sem meio saber o porquê ou por quem
ou aonde isso tudo vai levar
ou quem vão levar
quando o diabo apertar.

ao redor dessa esfera
meio que perdidos
corpos bamboleiam, em cadência trôpega
de cá pra lá, de lá pra cá
entre salas, quartos, obrigações, deveres, consultas médicas
salas de espera, filas de banco, festas
e mais festas, e mais algumas meias de presente.

ao redor dessa esfera
de braços de um para braços de outro e outro
anseiam no íntimo que cada colo, desta vez. desta vez.
será seu colo.
à espera de uma pessoa ou de um mistério
uma caixa com um laço, um pássaro, um toque na costela
um mísero cântico gregoriano de manhã dominical
que faça apaziguar
certas ressacas íntimas,
e que incertezas transformem-se em edredom
em noite fria,
e que  o sono possa ser o mais quieto de todos
nadando nas profundezas de Morfeu
tão próximo da morte
que acordar e respirar será uma dádiva
em dia ensolarado
de vento infantil
e mar de brigadeiro.