jeudi, novembre 22, 2012

a incursão


a porta aberta
o forte acre cheiro da noite
meia luz entrelaçada com finos traços de poeira
nos ralos das raras ruelas
ainda parcialmente acesas
encobertas de mistérios de cobre
cobrem o corpo na noite
e de pé, mira pela fresta da porta,
a porta aberta à frente,
ela

tem medo de algo, do corredor comprido
de-não-sei-o-que-mais com pelos, unhas gigantes e garras
a geladeira é alvo quase militar
e seu estômago se revira e sofre bombardeios
como se 2ª Guerra Mundial fosse
o que fazer se os outros soldados do alojamento dormem
e a escolta é mero devaneio embalado na madrugada?
existe a gana e só ela
mas existem também sombras, cortinas
se mexendo em rodopios, danças de objetos parcialmente a mostra
manchados e com estampas de flores

o caminho longo é suplício
de areia, pedra, ventania
assobios e silvos, o abajour sussurra
a velocidade de caramujo
com que os segundos da noite ostentam e transcorrem
marcam os passos pé ante pé
da heroína solitária da madrugada sedenta

e nessa injeção de coragem
vai, vagarosa vagando, ora veementemente
por vãos reticentes e o papel de parede se descolando
não ajuda o pouso de suas mãos pequeninas
e analisando o perigo iminente, continua
olhos arregalados, ouvidos mais atento que cães de caça
mãos geladas, pés em atrito com o incômodo chão espinhoso
ela vai vai e vai
e chega

abre a porta
de supetão
a luz gritante na cara
uma lufada de vento frio frontal lhe eriça os pelos do braço
alguns cheiros adentram suas narinas
de variadas cores, nomes, formas
alguns
ferem seus olhos de forma gritante
e apenas um copo d´água
no fim das contas
lhe confere o conforto orgulhoso e penitente
da condecoração emblemática no peito do pijama de pequenos corações
pela coragem e bravura em campo
daí
em um gole
a água sorvida por completo
e um sutil sorriso estampado no rosto
surgem-lhe forças desconhecidas
de locais indubitavelmente inóspitos
para comandar o vitorioso batalhão de uma só
de volta à sua cama.

dimanche, octobre 14, 2012

1+1


dois
é
par
e é para tudo
mais convencer
que
a dupla 
se junta e
conjunta 
apara
a dor



dois
nem se compara
ao comparecer
com parecer , aparador e juntas
para
adormecer
e
com
vencer
e
a dor me ser
tudo menos dor.

lundi, septembre 03, 2012

small hours

adormece em meu peito,
pequena delirante
mente e cria em seus sentidos
tortos
chama, chama febril
por um triz, um risco, um fato
um sonho que não vem
a mão que não a persegue
nem nunca há de perseguir
excesso ou falta
não se sabe
estendo um leito, unguento, água
desnecessário
tudo desnecessário
e como se fosse gritar
com sua voz muda mais muda que há
arrasta o lençol
e na guerra consigo mesmo
arranca as roupas fora
emudece ainda mais o silêncio hostil
do quarto
estica-se até ganhar uns centímetros
de orvalho
e entrega-se
sem dó
sem olvidar
finalmente
do sono
e
do ar que é seu
e aquiesceu.

dimanche, juillet 29, 2012

nocturne #1

ela entrou no quarto
em passos cadenciados
e bem marcados
com os pingos de chuva que caíam
lá fora e batiam na janela
como mármore sobre fina lã
estremeceu quando viu o corpo no chão
do quarto vermelho
estatelado como batata amassada
resmungando meia dúzia de palavras
inaudíveis
como sempre
como sempre
a figura grotesca refletia 
e se remexia
de lá pra cá
em alusão
ao seu passado semimorto
e nada mais era
que um reflexo do presente
em seus derradeiros
suspiros

mardi, juillet 10, 2012

cwb


é uma flor etérea
com perfume de tangerina
de inúmeras pétalas
multicoloridas
de imagens plácidas
de fios de algodão
nelas refletidas
cores que pedem colo
cores que pedem palavras bonitas
gestos doces
que só querem cafuné
e tudo a sua volta
tem cheiro de jasmim
trovas escorrem por entre
seus dedos
quando ela acorda
e ao se espreguiçar
pássaros a postos em sua janela
dão bom dia e regozijam-se
e a convidam a sair de seu jardim

e ela vai e vai
para mais um desfolhar
e florescer na manhã seguinte
nesse faz-de-conta
ela conta muito
calma como pluma
esvoaçando em brisas solares
de primavera
e com duas ametistas
no lugar dos olhos
e sorriso da calma mais branca que existe
ela é rainha
em seu imaginário mundo
de pequenices de caramelo.



mercredi, juin 13, 2012

suco e mate


os dados são jogados
e sem maiores dados
os corpos ousam
sem qualquer medida pronta
sem bula, sem certeza
das contraindicações
e daí?
e daí que amores são quebrados
e construídos e quebrados
construbrados
quebra dois
num instante
e constrói-se um novo corpo
assim é construída a queda
em pedaços brutos do coração
e reminiscências líquidas dos olhos
a vida em supetão é simples
em seu nascer
e mais simples ainda para morrer
assim, estremecem as entranhas
a cada toque dos dedos na pele
e não há saída
quando o corpo
transmuta-se em fraqueza
e a fraqueza transmuta-se
em amor

mercredi, avril 18, 2012

conjecturas #8

tempo tem se mostrado aflito
escorrendo pelos dedos
tal qual areia ao vento
viscoso, irrequieto, fugidio
surrupiam-se as horas
como se fossem
pequenos regalos
que devêssemos batalhar
ardorosamente
pr´a tê-las
a vigília do desconforto moderno
incide, esquenta, esfria
botão vermelho, deadline
até o sono vir
abalroado pelo despertador
o corpo se levanta e se apressa
novamente
e novamente
as rugas são mais rápidas que os feitos

lundi, mars 12, 2012

conjecturas #21

tormentas, sopros de surpresa
ventos bons, ventos torpes, ventos bons, ventos
o que importa é carregar o que já não tem lugar
e dar chão ao que quer entrar
o novo assusta, treme em sobressaltos
mas lança-se do trampolim ao céu
como quem não quer nada
e porventura acaba acertando
uma estrela macia aguardada

lundi, février 27, 2012

conjecturas #12

meus sonhos
tão palpáveis quanto
água de melancia
que pelo menos fossem eles
suas sementes
para poder jogar na terra
e torcer
ah como eu queria

jeudi, février 09, 2012

conjecturas #17


faz um dia raro
particularmente comum
de ventos quentes
respirações calculadas
corpos deslocados
no vai-e-vem rotineiro
mecânico e santo de cada dia
e um choro vazio
ecoa por aí
às vezes
meio baixinho e acanhado
às vezes
pomposo e trovejante
não sabe-se-de-quem
não sabe-se-de-onde
pode ser
de uma
criança birrenta
com sono fome inquietude
ou de um
despertar qualquer
dentro de mim mesmo

mercredi, février 01, 2012

vento bate
açoita a pele
levando embora o que já não pode
mais ficar
o que já perdeu seu lugar
o que é inválido roto carcaças
deixa tudo fora de ordem
onde dias melhores tentam
se esmagam esgueiram buscam
um fiapo de sol
tentando acalentar
uma esperança mordida

dimanche, janvier 29, 2012

não acorde, meu amor
há mais perigos
na mais tranquila vida
do que
no mais turbulento pesadelo

mardi, janvier 24, 2012

conjecturas #14

meu bem
dois cafés
pernas esticadas
cócegas e risos frouxos
afagos e sorrisos e sorrisos
teu esmalte azul
aquela velha piada
uma canção voz-violão
carinhos da brisa
que vem da janela
cortinas de pássaros azuis
um dia qualquer
relógio sem ponteiros
alheios mudos
calmaria de imensidão
quem rir primeiro 1,2,3
unânime paz
eu, você
entregues

lundi, janvier 23, 2012

cadência #2

às vezes
temo pela sanidade de minhas escolhas
tendo a enfatizar o tom da dúvida
nas palavras
enalteço a pedra bruta intocada
forças que misturam pensamentos
a conseqüente liberdade quente
e torço pela santa e dúbia inexatidão
de todos as vias

às vezes
duas mãos estranhas puxam-me para o chão
avisam da idade, da matura sensatez
subo para sonhar e questionar
me permito asas, mesmo que fracas
me permito sonhos, mesmo que tortos
me permito voos, mesmo que curtos
livre e cadenciando
francas verdades com mentiras sinceras

grito “deixe-me ser vário!”
repetidas vezes
mesmo que não seja ouvido
pois as vezes é melhor
ter uma dúzia de questionamentos
um punhado de caminhos diversos
espalhados pelo chão
do que duas verdades lustradas
brilhando como troféus na estante

samedi, janvier 21, 2012

nossos olhares
trata-se de pequenas e ligeiras flutuações do solo
intermitências de silêncio e plenitude
nesse trator-mundo

lundi, janvier 16, 2012

menina
sua canção áspera
reverbera
em loopings
em mim, no céu
broken hearts strobelights
´n neon goodbyes
e eu te deixo
um breve aviso
colado na geladeira
belos e sujos restos de ontem a noite
um lânguido e estranho odor
pelo quarto em pó
na ponta dos pés
um agridoce até mais ver
mon amour

dimanche, janvier 15, 2012

início

espere
esfrego os olhos
que me amanhecem
e durante o desjejum com o sol
uma interrogação é solta
por tua boca infantil
espécie extinta de certezas
cambaleantes
finito espaço tangente encontro
bem, tudo bem e  o mal?
um equívoco dança aqui
baila um mal entendido acolá
eu bem que te disse
que eu me desperto em ti mesmo
e o porto não oferece garantias, dá luz
a perguntas
toque em mim
mas não se aborreça não
só guardo sempre
uma porção de incerto
pra depois do jantar